Estudo realizado na Esalq avaliou técnica que recupera áreas exauridas pela mineração e aponta alternativa sustentável para manejo de rejeitos
Os impactos ambientais negativos causados pela mineração feita de forma irresponsável se tornaram muito conhecidos dos brasileiros nos dois grandes desastres que ocorreram nas cidades de Mariana e de Brumadinho, em Minas Gerais. Mas é possível, com ajuda da ciência, diminuir o impacto da mineração e contribuir para o setor, que gera mais de 200 mil empregos diretos e é responsável por 5% do produto interno bruto (PIB) do Brasil. Exemplo disso é a pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, sobre tecnossolos, superfícies que permitem a revegetação e a recuperação de cavas (tipo de poço) abandonadas ou exauridas pela mineração.
O estudo, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Esalq pelo doutorando e engenheiro agrônomo Francisco Ruiz, com orientação do professor Tiago Osório Ferreira, recebeu o Prêmio de Excelência da Indústria Minero Metalúrgica Brasileira 2020, promovido pela revista “Minérios”, publicação que é referência no setor.
A pesquisa foi realizada na mineradora de calcário Amaral Machado, na cidade de Saltinho, em São Paulo, utilizando uma estratégia inovadora para o setor mineral no Brasil. Ela consiste em reaproveitar os rejeitos produzidos pela própria mineração para construir solos, recompondo a topografia e revegetando as áreas. As áreas recuperadas no estudo estão agora sob pastagem e cultivo de cana-de-açúcar. Durante o estudo, foram avaliadas a rapidez e a qualidade com que esses tecnossolos se formam.
Desempenho superior
De acordo com o autor, tecnossolos com apenas 20 anos chegam a apresentar desempenho superior aos solos naturais do entorno quanto a aspectos ligados à fertilidade e ao conteúdo de matéria orgânica. “Considerando que são necessários cerca de 400 anos para se formar 1 cm de solo em condições tropicais, a taxa de formação dos tecnossolos foi muito rápida, com pelo menos 10 cm de solo fértil formados em poucos anos”, afirma. “Os rejeitos do calcário eram livres de contaminantes e propícios à formação de solo. Caso contrário, outros materiais poderiam ser adicionados para que o solo se desenvolvesse adequadamente.”
O grupo de pesquisa sobre Ciência do Solo da Esalq também tem realizado estudos combinando diferentes resíduos (domésticos e industriais) com rejeitos de mineração na construção de tecnossolos eficientes em desempenhar diferentes funções, a depender da problemática (revegetação, barreira contra contaminantes e outros). “São soluções de baixo custo, que aliam o gerenciamento de resíduos e a recuperação de áreas degradadas. É possível não apenas recuperar cavas exauridas e abandonadas, mas também mitigar mudanças climáticas e aumentar as alternativas de uso da terra para a produção de energia e alimentos. Assim, os tecnossolos destacam-se para o contexto nacional como alternativa original e extremamente promissora”, destaca Francisco Ruiz.
A pesquisa premiada da Esalq “Weathering and incipient pedogenesis of Technosols constructed from dolomitic limestone mine spoils” está disponível nas revistas científicas “Geoderma”, “Minerals” e “Chemosphere”.